Certa
vez, fui convidado por um amigo a ir a uma reunião de um grupo chamado
"Nova Política".
Ele
me disse que lá tinham pessoas de diversas ideologias, com boas ideias e aquela
coisa que ainda falta nas pessoas para mudar o Brasil.
Eu,
claro, fui lá conferir.
Fiquei
decepcionado com o que vi.
As
palavras mais usadas pelos presentes eram "direita", claro, de forma
pejorativa, junto com "reacionário".
Alguns
usavam muito o termo "sonhático", que depois fui descobrir ser um
neologismo (palavra nova), para se contrapor a "pragmático" e
"utópico".
Nesse
encontro, muitas pessoas falaram de Marina Silva como algo novo, algo bom, de
que o Brasil realmente precisa. Será?
Em
conversa com meu amigo, eu disse que Marina era populista, personalista,
daquele tipo que se acha a única solução para algo e, se não for ela, nada mais
será.
Hoje
vejo que só fortaleci minha imagem sobre a ex-senadora, que não saiu do PT, não
por causa dos escândalos de corrupção que assolaram o Brasil, mas sim por
divergência com a, à época, Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. E,
isso não é bom!
Marina
saiu porque queria espaço para concorrer à presidência, coisa que o PT não lhe
deu, já que o partido tinha nomes mais viáveis.
Foi
para o PV, onde teve expressiva votação para presidente em 2010, mas saiu de
lá, pois sabia que se tornou maior do que o partido.
Hoje
Marina está tentando criar um partido, mas que não aceita ser chamado assim.
Gosta de dizer que é uma rede de sustentabilidade!
Bom,
se não for partido político ele sequer poderá concorrer à presidência de novo,
já que ser filiado a um partido é requisito para isso.
Nesses
dias, quando alguém chega comigo para falar sobre Marina eu sempre digo que
falta clareza à ex-senadora, pois não consigo saber o que ela pensa e quais
suas ideias para o Brasil. Ela fala em desenvolvimento sustentável, em outra
realidade, em uma terceira via, mas nada explica.
Outros
já me disseram que devo votar em marina porque ela é do norte. Nasceu no Acre e
olharia para nossa região.
Sei
não! Se Jader Barbalho fosse candidato à presidente você votaria nele só por
ser daqui do Pará?
Eu
não! É preciso bem mais do que isso.
Bem,
já fui muito além do que queria dizer.
Gostaria
que lessem esse artigo de Reinaldo Azevedo sobre as práticas de Marina e, vejam
como ele lembra uma experiência ruim que tivemos recentemente com um tal
Fernando Collor de Mello, hoje transformado em companheiro, com a reputação
devidamente lavada pelo PT.
Se a história ensina, então tenhamos prudência.
“TSE define o destino da Rede, de Marina. Ou: As insuspeitadas semelhanças entre a prática da ex-senadora e um certo Fernando Collor. Ou ainda: Falsas questões sobre a política no Brasil
O TSE decide hoje o destino da Rede —
ao menos para a disputa eleitoral do ano que vem. Qualquer que seja o
resultado, Marina Silva participa da eleição se quiser. PEN e PPS já lhe
ofereceram abrigo. O problema é que seria uma saída escancaradamente
artificial, chamando atenção para algo que Marina faz questão de esconder: está
tentando criar um partido com o propósito de se candidatar. Para quem fala em
nome de uma “nova política”, nada poderia ser mais velho, não é mesmo?
Os “marineiros” não gostam que eu
lembre, mas não posso fazer nada; os fatos gritam. Já houve um senhor antes
dela que criou uma legenda com o propósito de servir a suas aspirações
eleitorais. Seu nome: Fernando Collor de Mello. Seu partido: o PRN. Há
diferenças, é certo, de conteúdo entre um e outro. Mas não há diferença de
procedimentos.
Os respectivos discursos, sou obrigado
a lembrar, guardadas as diferenças impostas pelo tempo, também têm lá suas
semelhanças, embora Collor representasse, vamos dizer assim, uma espécie de
messianismo destrambelhado à direita, e Marina, à esquerda. Ele também não
queria conversa com políticos tradicionais — embora fosse, na origem, cria da
Arena. A ex-senadora, do mesmo modo, esconjura as forças da tradição, embora,
em muitos aspectos, ninguém seja mais tradicionalmente petista do que ela
própria. Collor dava a entender que iria fazer e acontecer sem dar bola para o
Congresso, que representaria, então, o velho Brasil contra o qual ele
supostamente se insurgia. Marina, do mesmo modo, lastima que “o sociólogo (FHC)
não tenha feito a reforma política, e o operário (Lula) não tenha feito a
reforma trabalhista”, mas não diz como ela própria, se eleita, faria uma coisa
ou outra sem o Congresso, com o qual, afinal, tanto o sociólogo como o operário
tiveram de governar. Ou existirá outra maneira? Collor era do tipo que dava
murro no peito. Marina parece nos dizer que bastará fazer um círculo, e a
boa-vontade de homens e mulheres, então, se imporá.
Os “marineiros” não fiquem bravos. As
semelhanças são evidentes, ainda que se possam atribuir a Marina virtudes
verdadeiramente demiúrgicas e que Collor fosse apenas um destrambelhado. Uma
coisa é certa: ninguém sabia direito o que ele queria para o Brasil, e ninguém
sabe o que quer Marina. Nas vezes em que foi chamada a se posicionar sobre isso
e aquilo, preferiu saídas retóricas que caem no gosto de alguns descolados, mas
que nada dizem. Ainda me lembro daquela conversa de ela não ser “nem situação,
nem oposição, mas ter posição”. Alguns disseram “Ohhh!!!”, como se estivessem
diante de uma revelação. E sabem o que isso quer dizer? Apenas nada!
Sei que cobrar clareza de Marina vira,
na política e na crônica, coisa de gente de maus bofes, que estaria querendo
matar o novo. Já vivi o bastante para não cair nesse tipo de conversa. Vamos a
um exemplo prático. O Brasil discutiu um Código Florestal. O texto defendido
por Marina, se aplicado como ela queria, implicaria uma redução brutal na área
plantada. Isso não é questão de gosto, mas de fato. A pergunta se impõe: o país
poderia conviver com isso? Se eleita, ela tentaria mobilizar a máquina do
governo para voltar a seu plano original? Reviu a sua posição depois disso?
Ninguém sabe. Também não se conhecem suas opiniões sobre a economia brasileira,
acertos e desacertos. A gente só deve entender que ela não concorda muito com o
que está aí, mas também não discorda tanto.
Marina transita numa facilidade
retórica, assentada, de resto, sobre uma falsa verdade. O problema do Brasil
seria o permanente confronto entre PT e PSDB, e seria necessário romper essa
dualidade. Ora, não existe nada mais estupidamente falso do que isso. Nos três
mandatos do petismo, a oposição nunca foi capaz de fazer frente ao governo, que
montou uma base de apoio gigantesca. Ouso dizer que a verdade é bem outra: o
que falta no Brasil é mais polarização; o que falta no Brasil é mais clareza; o
que falta no Brasil é que a oposição bata mais duro. Um dos erros dos tucanos,
ao longo desses 11 anos, é justamente não ter radicalizado. O país não está
meio paradão porque, sei lá, “republicanos” extremistas impedem o governo de
tocar seus projetos. Uma das coisas que desgraçam o país é justamente o tamanho
da base aliada. O problema principal do governo não é ter de enfrentar uma oposição
organizada e coesa; o problema do governo é ter sócios demais. Assim, até mesmo
essa Marina que viria como um tertius salvador nasce de uma falsa
questão.
O TSE.
Já deve ter dado para perceber que ela
não é a minha preferida. Mas não é por isso que deveria ter negado o registro
da Rede. Se acontecer, será por outra coisa. Não tenho, sobre esse particular,
muito a acrescentar ao que escrevi na manhã de
ontem. A Rede não cumpriu as exigências legais para se viabilizar. Uma exceção
aberta a um partido ou a uma personagem política pelo tribunal superior que
cuida de eleições seria um precedente da maior gravidade.
Desde que rompeu com o Partido Verde,
Marina teve quase três anos para estruturar a sua legenda. Nesse tempo,
produziram-se quilômetros de perorações sobre a “nova política”, mas parece que
se deixaram algumas questões práticas para mais tarde, como se essas também
pudessem ser solucionadas pelas emanações demiúrgicas de Marina. E não podem. O
TSE e as regras que estão aí não foram criadas para impedir a ex-senadora de
organizar o seu partido. Valem também para os outros.
Lembro, caminhando para o encerramento,
que Marina e os marineiros mudaram de mala e cuia para o Partido Verde.
Poderiam estar lá, com tudo nos conformes. O problema é que chegaram como uma
espécie de força invasora, impondo a sua vontade, na base do “ou dá ou desse”,
ou “vocês aceitam ou a gente sai”. Não é um jeito muito democrático de fazer
política, ainda que Marina eventualmente possa ter uma linha direta com a
sabedoria universal e disponha de mecanismos que lhe permitam fazer download do
divino. Do mesmo modo, cobrar que o TSE ignore a lei em nome de uma suposta
legitimidade natural não é a melhor maneira de servir ao regime democrático.
A menos que se queira um TSE também
sonhático…”
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